A obesidade é uma doença complexa, que demanda abordagens integradas e multidisciplinares para o seu manejo. Nos últimos anos, além da cirurgia bariátrica, que continua sendo o tratamento mais indicado para obesidade severa, o avanço de medicamentos para controle do peso trouxe novas possibilidades.

Eu, Dr. Lucas, sempre reforço aos meus pacientes que medicamentos podem ser um recurso importante em etapas específicas do processo de emagrecimento, mas não são uma solução mágica. Cada caso exige uma análise criteriosa, e a medicação deve ser usada com base em indicação médica rigorosa e apenas como complemento a mudanças consistentes no estilo de vida, como a reeducação alimentar e a prática de atividade física. Além disso, enfatizo que o acompanhamento por uma equipe multidisciplinar — com nutricionistas, psicólogos e apoio familiar — é indispensável para o sucesso do tratamento.

Vamos explorar como esses medicamentos podem auxiliar em momentos específicos, desde a preparação para a cirurgia até o controle do peso após o procedimento.

Diretrizes para Prescrição de Medicamentos Antiobesidade

Quem Pode Prescrever?

O uso de medicamentos antiobesidade em pacientes submetidos à cirurgia metabólica e bariátrica exige uma abordagem cuidadosa e baseada em critérios rigorosos. De acordo com diretrizes internacionais lideradas pela International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic Disorders (IFSO), essas medicações devem ser prescritas exclusivamente por profissionais de saúde devidamente qualificados, como endocrinologistas e cirurgiões especializados em bariátrica e metabólica.

Os medicamentos antiobesidade não podem ser indicados por qualquer profissional de saúde. A recomendação é que endocrinologistas, cirurgiões bariátricos e metabólicos, ou outros especialistas treinados no manejo da obesidade estejam à frente dessas prescrições. Esses profissionais são capacitados para avaliar a condição clínica do paciente, interpretar exames complementares e ajustar o tratamento conforme a resposta individual.

Condições para a Prescrição

Estabilidade de Peso: As diretrizes sugerem que os medicamentos sejam iniciados somente após o paciente atingir uma estabilidade de peso após a cirurgia, para que o impacto da cirurgia isoladamente possa ser avaliado.

Casos Complexos: Pacientes com dificuldades no controle de peso ou no manejo de comorbidades associadas, como diabetes tipo 2, podem se beneficiar de estratégias combinadas precoces, sempre com monitoramento clínico rigoroso.

Personalização do Tratamento: Cada caso deve ser analisado individualmente, considerando fatores como idade, histórico clínico e resposta ao tratamento inicial. Medicamentos modernos, como os análogos hormonais intestinais, são indicados em situações específicas, devido ao seu impacto positivo no controle metabólico e na redução de complicações cardiovasculares.

Benefícios e Responsabilidades

Esses medicamentos oferecem benefícios significativos quando utilizados de forma responsável, mas exigem acompanhamento contínuo para evitar efeitos colaterais e garantir a adesão ao tratamento. Além disso, o uso das medicações deve sempre fazer parte de um plano integrado, que inclua reeducação alimentar, prática de atividade física e apoio psicológico.

A adoção dessas práticas reforça a importância de um tratamento interdisciplinar e personalizado, com foco em proporcionar qualidade de vida e segurança aos pacientes que enfrentam os desafios da obesidade.

Medicamentos Recentes no Manejo da Obesidade

Semaglutida (Ozempic, Wegovy)

A semaglutida, um análogo do hormônio GLP-1, é uma das medicações mais populares atualmente. Ela age promovendo saciedade e diminuindo o apetite, ajudando na redução da ingestão calórica. Popularmente conhecida no Brasil como Ozempic ou Wegovy, é amplamente prescrita para o controle do diabetes tipo 2 e, mais recentemente, aprovada para controle de peso em doses específicas.

Evidências e Controvérsias: Estudos demonstram uma perda significativa de peso em pacientes tratados com semaglutida, mas também há relatos de efeitos colaterais como náusea, vômito e constipação. É fundamental que a prescrição seja feita por profissionais capacitados, que avaliem o perfil de risco de cada paciente.

Tirzepatida (Mounjaro)

A tirzepatida é um medicamento inovador, conhecido por seu mecanismo duplo de ação, que combina agonismo dos receptores de GLP-1 e GIP (peptídeo insulinotrópico dependente de glicose). Inicialmente desenvolvida para controle do diabetes tipo 2, estudos recentes mostram sua eficácia na redução de peso.

Disponibilidade e Potencial: Embora ainda não esteja amplamente disponível no Brasil, a tirzepatida tem mostrado resultados promissores em estudos internacionais, com taxas de perda de peso superiores a outros medicamentos. Como toda medicação nova, ainda há necessidade de monitoramento rigoroso para avaliar seus efeitos a longo prazo.

Liraglutida (Saxenda, Victoza)

A liraglutida, outro análogo de GLP-1, foi um dos primeiros medicamentos a ganhar aprovação para o controle do peso. De aplicação diária, ela ajuda a reduzir o apetite e tem sido uma escolha popular no Brasil para pacientes que precisam de suporte no emagrecimento.

Cautelas e Aplicação: Apesar de eficaz, a adesão ao tratamento pode ser desafiadora devido à frequência de aplicação e ao custo elevado. Além disso, os efeitos colaterais são semelhantes aos da semaglutida, incluindo desconfortos gastrointestinais.

Medicamentos como Parte de uma Abordagem Integrada

A medicação, quando bem indicada, pode ser uma aliada no processo de emagrecimento, especialmente em situações específicas, como:

Preparação Pré-Operatória: Para pacientes superobesos que precisam reduzir peso antes de uma cirurgia bariátrica, os medicamentos podem ser combinados com outras estratégias, como o balão intragástrico, que considero uma ferramenta eficaz para perda ponderal inicial e adequação clínica.

Controle Pós-Operatório: Após a cirurgia, medicamentos podem ser usados para evitar o reganho de peso em casos selecionados. No entanto, reforço que o sucesso a longo prazo depende de adesão a mudanças de comportamento e estilo de vida.

Uma Abordagem Segura e Individualizada

É importante destacar que o uso de medicamentos para emagrecimento não deve ser trivializado. A automedicação ou o uso indiscriminado, frequentemente incentivado por modismos e redes sociais, pode trazer riscos à saúde. Por isso, oriento que:

• A prescrição seja feita exclusivamente por médicos especialistas;
• Os pacientes sigam rigorosamente as orientações, comunicando quaisquer efeitos colaterais;
• As expectativas sejam alinhadas, entendendo que os medicamentos não substituem mudanças de comportamento.

Cirurgia Bariátrica: O Foco Principal

Embora os medicamentos desempenhem um papel importante, a cirurgia bariátrica continua sendo um método muito eficaz para o controle da obesidade severa e suas complicações. Ela proporciona não apenas uma redução significativa de peso, mas também melhora em comorbidades como diabetes, hipertensão e apneia do sono.

Os medicamentos, nesse contexto, são ferramentas complementares, e não substitutos da cirurgia. O manejo da obesidade exige uma abordagem multifatorial, adaptada às necessidades de cada paciente.

Conclusão



O avanço dos medicamentos para controle de peso representa um recurso valioso no tratamento da obesidade, mas exige responsabilidade e critério em sua aplicação. Combinados à cirurgia bariátrica, quando indicada, e a mudanças consistentes no estilo de vida, eles podem ajudar a alcançar resultados sustentáveis e promover uma vida mais saudável.

Se você busca orientação personalizada sobre o uso de medicamentos ou considera a cirurgia bariátrica como opção, agende uma consulta. Juntos, podemos encontrar a abordagem mais segura e eficaz para o seu caso.